sexta-feira, 29 de abril de 2011

Metade dos jovens fumantes do DF já se drogou

Pesquisa da Faculdade de Medicina da UnB confirma que pelo menos 50% dos adolescentes tabagistas no Distrito Federal experimentaram ou usam algum tipo de entorpecente. O cigarro, por si só, é o primeiro da lista entre os vilões responsáveis pelas doenças que mais matam no mundo, as cardiovasculares e o câncer. Entretanto, torna-se ainda mais perigoso depois de constatada sua associação com outras drogas. E são justamente os adolescentes os mais expostos a essa mistura explosiva.

Um estudo inédito da Universidade de Brasília (UnB) mostrou que, entre os jovens de 10 a 20 anos no Distrito Federal que fumam diariamente, 50% já experimentaram ou consomem drogas mais pesadas. "Esse número provavelmente é maior", reforça Carlos Alberto de Assis Viegas, chefe do Serviço de Pneumologia do Hospital Universitário de Brasília e orientador da pesquisa. Viegas especula que muitos adolescentes podem ter omitido informação por constrangimento ou insegurança. As drogas mais citadas nos questionários, por ordem de freqüência, foram maconha, cocaína, craque/merla e lança-perfume.

Entre os fumantes ocasionais, 17% relataram o consumo de drogas. No caso dos não-tabagistas, apenas 2% admitiram ter provado outras substâncias tóxicas. A pesquisa, realizada pela Faculdade de Medicina, revelou que 10,5% dos estudantes nos níveis fundamental e médio são tabagistas. Dos 2.661 entrevistados, 8,3% fumam ocasionalmente e 2,2% diariamente. Conforme responderam os adolescentes, a média da idade em que o hábito se inicia é entre 12 e 13 anos.

O Estudo Global do Tabagismo entre os Jovens é resultado da dissertação de mestrado da médica Márcia Cardoso Rodrigues de Sousa e conta com a participação de alunos da graduação selecionados pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic). O trabalho reforça a idéia de que o cigarro abre portas para outras drogas, sejam lícitas ou não. Foi constatado que 87,5% dos jovens assumidamente tabagistas também usam álcool. Esse número cai levemente entre os fumantes ocasionais, para 73,6%, mas o maior decréscimo acontece entre os que não fumam: 20,8%.

Idade crítica

Tanto em relação a drogas ilícitas quanto a bebidas alcoólicas, o ápice do consumo entre os tabagistas ocorre, em média, aos 16 anos de idade. Desse momento em diante, a periodicidade e a quantidade utilizada se estabilizam. Por esse motivo, os especialistas consideram preponderante estimular políticas de prevenção do uso de tabaco e drogas voltadas aos pré-adolescentes e adolescentes.

"É indispensável elaborar campanhas direcionadas à faixa etária entre 10 e 16 anos, quando a pessoa torna-se um consumidor em potencial", argumenta o pneumologista. O estudante de Medicina e bolsista atuante na pesquisa, Juliano Zakir, concorda e acredita que tais campanhas também devem atingir os pais: "É preciso desenvolver ações que também envolvam a família. Se os pais souberem que o cigarro abre as portas para outras drogas, poderão ajudar na conscientização dos jovens".

Para Viegas, verificar que o consumo de drogas por adolescentes tabagistas é tão grande em escolas públicas quanto privadas foi uma surpresa: "Engana-se quem imagina que, por estarem próximos dos esquemas que sustentam o tráfico, os adolescentes de níveis socioeconômicos mais baixos são mais suscetíveis ao consumo". Assim, a pesquisa comprova a difusão de drogas entre as várias camadas da população. "Constatamos que os mais ricos têm tanta facilidade em obter e usar a droga quanto os mais pobres", reitera o médico.

A vulnerabilidade dos adolescentes é, segundo o pneumologista, determinante para o início do hábito de fumar e usar drogas. "Nessa fase, as questões psicossociais estão em turbulência e a personalidade está se consolidando", diz Viegas. Além da desestabilidade provocada pela alta descarga hormonal, insegurança e problemas com a família podem contribuir para aproximar o jovem do vício. "Não é à toa que a publicidade do cigarro se volta para esse público: o adolescente é um alvo mais fácil, seja para a indústria tabagista, seja para o tráfico de drogas", reforça.

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